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A minha tribo sou eu

Num mundo cheio de gente, a minha tribo começa em mim

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No ocidente, os temas espirituais sofreram ataques e deturpações constantes para que a unificação de uma só religião fosse controlada. Dos famosos concílios de Niceia (no primeiro destes o imperador Constantino decidiu por vontade própria, “rasgar” alguns textos bíblicos) e de Trento, até à Inquisição (para não falar de casos mais recentes), todo este processo fez com que a espiritualidade fora da Igreja fosse tema tabu, e pior, fosse tratada como coisa herege. Daí até chegarmos a uma época em que ser livre de pensamento e vontade era utopia, foi um passo. Se nos passearmos pela literatura religiosa ou espiritual a palavra liberdade é uma constante. No cristianismo (não confundir com catolicismo, que não é a mesma coisa), por exemplo, a palavra liberdade aparece muitas vezes. E, em muitas ocasiões, aparece unida a outra, que é ainda mais frequente: a palavra verdade. Aletheia, verdade, no texto grego do Novo Testamento, aparece muitas vezes ligada a eleutheria ou aos seus derivados. Há, portanto, uma conexão sumamente importante: Vale a pena recordar um dos textos mais citados do Evangelho de São com a permissa "conhece a verdade e a verdade e a verdade te libertará", em que "verdade" e "liberdade" aparecem juntas de um modo central e orientador. O “problema” da liberdade é absolutamente decisivo.

O nosso grau de liberdade depende sempre do grau de liberdade do outro se o outro tiver o poder de mexer com a nossa liberdade

Há também um outro fator que costuma ser esquecido: o aristotelismo influencia não somente no pensamento medieval cristão, mas também no pensamento judeu e árabe que, por sua vez, influenciam também no pensamento cristão, eminentemente a ocidente. A escolástica cristã, por exemplo, foi muito condicionada por influências que procedem, por exemplo, de Averroes e de Maimônides, e que são, afinal, elaborações judaicas ou islâmicas de Aristóteles. E isto faz com que, em alguma medida, esse caráter radical profundamente pessoal que pertence à visão cristã (e pertence também à análise puramente intelectual da realidade humana) fique diluído ou esquecido. O termo Liberdade, dilui-se, então, numa infinidade de conceitos filosóficos e de regras de sociedade. O Ser evoluiu então com a crença que ser livre é viver consoante um sem número de regras sociais e éticas que evoluiram como um conjunto e nunca como individualidade. E é na individualidade que devemos procurar a Liberdade. Claro que “a minha liberdade acaba onde começa a do outro” é permissa a ter em conta, mas quem atinge um grau de libertação individual, jamais fará algo que condicione o outro. Difícil? Não! Se refletirmos, na esmagadora percentagem de situações, aquilo que nos tira a liberdade são as imposições sociais e “aquilo que ou outro vai pensar”. Tudo roda em volta das expetativas que queremos criar, do impacto que teremos na vida de alguém ou de alguns. Cuidamos do cabelo não para nós, pelos outros. Vestimos de determinada forma, não porque nos sentimos bem, mas porque está na moda e vai ser aceite em determinado local. As nossas escolhas culturais e sociais são feitas com base no que é “in” ou aceite e não por aquilo que nos preenche. E por isto, não raras vezes, estamos emoldurados de uma multidão mas sentimo-nos vazios, sentindo que se falarmos de assuntos que fogem à compreensão de outros (até por isso), seremos ridicularizados, criticados e postos de parte.

O momento em que nos libertamos da opinião do outro entramos num grau de liberdade imbatível

A partir do momento em que caem os grilhões que nos prendem à opinião alheia, à dependência alheia e o centro passa a ser “a minha vida, a minha paz, a minha liberdade” a tendência de entrar “no mundo do outro” termina, pois começa o entendimento acerca das fronteiras da individualidade. Neste momento, começamos a olhar-nos e a compreender o que realmente importa. É um caminho que pode ser disfarçado de solidão (pelo arquétipo social imposto) e dar-nos uma sensação de vazio ao início, mas quando aprendermos a estar connosco, a visitar algo connosco como companhia, a ler um livro e a dialogar sobre ele connosco, a ter tempo para nós e só nós, o processo de libertação começa. Neste momento, acontece algo mágico… a tua tribo aparece. Não os que te impõe arquétipos, mas os que vibram na tua sintonia e são livres de aprender a viver incondicionalmente. Mas para isto, lembra-te do poeta Zeca Baleiro em primeiro lugar: “Minha tribo sou eu”.



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